domingo, 15 de agosto de 2010

Lilian (Capítulo 2)

Então continuou aquela amizade, sabe? A gente se via, batia papo, mas só nos beijávamos meio que escondidas. Lilian tinha medo da reação das pessoas; Eu não, mas não me importava tanto em ser segredo, desde que estivesse com ela.

E teve a chopada do segundo período de 2006. Fui me arrumar no pensionato de Lilian. Foi assustador olhar as Bíblias em cima das camas das meninas que dividiam quarto com ela. E eu nunca fui muito boa dando pala de hétero, mas todo esforço valia a pena. Entramos no banheiro. Dois chuveiros. Uma de frente para a outra. Demorei anos pra desmontar a visão dela, ali, nua, sorrindo, correndo o sabonete pelo corpo. Conversávamos enquanto tomávamos banho. Riamos juntas.

E nos aprontamos. Ela de blusa preta, calça jeans (ou era saia?); Acho que eu também, mas usava uma coroa na cabeça. Achava que ia me dar uma vibe bem Courtney Love, no “Live Through This”.
No caminho, passamos na casa da Mari e no mercado. Como boas bebuns com pouco dinheiro: 51 e refrigerante, antes da cerveja. Paramos na Cantareira pra comer um X-tudo, quando ouvimos um senhor bêbado falar com a gente “Senhoritas, desculpe incomodar, mas vocês podem me arrumar 50 centavos pra eu comprar uma pinga?”. Pedi pra ele arrumar um copo “Te dou da minha pinga, amigo, só porque você foi sincero”. Ele não acreditou muito. Soltou um “Tu não tem pinga...” e eu mostrei a garrafa de 51. Dei um pouco de cachaça pra ele e entramos no campus.

A galera toda lá, esperávamos que fosse divertido, né? A banda que tocava era boa, mas vamos assumir que a versão do “Frente” pra “Love Bizarre Triangle” não é o tipo de música mais animada pra uma chopada, né? Encostaram um carro vermelho que ficou tocando funk. E aí teve aquele momento bem high school em que as meninas dançavam juntas e os meninos do nosso período ficaram em fila, decidindo quem ia chegar em quem. Foi aí que Lilian virou lenda, tirando todas as menininhas do armário.

Eu só não sabia se me focava no coração partido de descobrir, ali, a força da minha paixonite por Lilian, enquanto ela beijava as outras meninas, ou se nas caras de chocados/frustrados dos garotos.

As coisas foram indo, mas não dava mais para ser como antes. Menina homofóbica com medo de pegar o elevador com a gente, a galera dizendo que a gente queria aparecer e eu com um medo absurdo de ver Lilian com outro alguém.

Numa tarde, embaixo do tablado, no bloco “O”. O momento mais brega da minha vida. Acho que um dos mais felizes também. Lembro de voltar pra casa com a sensação de quem é dono do mundo; de quem é rei e pode o que quiser. Eu a abraçava. Ela de pé, eu sentada no tablado. E cantei...

“Why don't you be my girlfriend
I'll treat you good
I know you hear your friends when they say you should
'Cause if you were my girlfriend
I'd be your shining star
The one to show you where you are
Girl you should be my girlfriend…”

5 comentários:

  1. Ounn tão Lindo! preciso de uma história assim p mim =x

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  2. Sabe o q eu achei melhor no seu texto no paradalesbica "dentro do teu corpo" ?
    Que ele foi escrito pra mim. Se soubesses que praticamente um ano eu sonho com ela, e ela sequer me tem em teus pensamentos.
    Achei lindo, sensual, doce, intenso... tudo nesses caminhos e mais.
    Tão complicado falar, mas seria um texto perfeito pra encaixa-la, pq sempre sonho e acordo e vejo que nem resquícios dela estão alí e pior que isso, cada dia mais absorvo a ideia que pra ela eu não passo de um pó, de um nada.
    Um beijo.

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  3. vai continuar o Lilian?
    muito bom...
    abraço

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  4. continuarei, sim...
    ^^

    só é bastante complicado escrever sobre lilian
    ;)

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