segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ana Carol

Eu tenho que aprender a desistir de você. Os anos passam, as trevas e a luz banham meu corpo e alma e você continua latejando em cada átomo de mim. O primeiro motivo que tive para sorrir. A primeira lágrima das poucas que derramei por paixão. Amor? Ainda não sei o que sinto ou sentia por você, mas como uma tatuagem, te vejo marcada em minha alma, me mostrando tudo o que eu já deveria ter sido naquele momento. Mostrando as derrotas que tive e que sobrevivi pra me tornar o que sempre fui, só não pude assumir.

O primeiro toque, o primeiro beijo. E eu me sentindo impura ao macular a beleza daquela que sempre foi a presença mais forte que já vi. Seus pés em all stars sujos, seu cabelo sem movimento. Minha boca entreaberta, na falta de palavras ou reação em torno da silhueta de menina que se transformava em mulher.

Eu fui sua primeira. A primeira língua de mulher em sua boca, assim como você foi a primeira dama a umedecer meus sonhos, a me deixar sem fôlego, sem palavras. Você lia as minhas linhas e a minha alma e sabia exatamente o que esperar de mim. Você foi a minha primeira fã. E amiga. E confidente. Você foi tudo mais que eu não consigo descrever com as minhas palavras imundas.

Você me lia e eu sorria. E você pedia para que eu escrevesse sobre si, como se não soubesse que era a razão da minha falta de sono, dos títulos mentirosos dos meus contos-de-fada. Quando percebi, estava perdida, presa, sem razão. Você tirou meus pés do chão e me fez flutuar pela primeira vez. E cada vez que eu respirava era por você, pra amanhecer com a certeza de te ver naquele dia. Eu e meus 14 anos de imaturidade, de certezas incertas, de depressão sorridente. Como poderia dizer que a sua presença marcaria a minha existência?

Como poderia saber, que, hoje, em mim, ainda haveria rios de você?

Ana Carol. O primeiro nome. A primeira insanidade, a primeira dor. Ainda não sei em quantos pedaços você partiu o meu coração, não fui capaz de contar ou de catar minha fragilidade que jaz em um chão qualquer, de lugar nenhum. O seu adeus foi o mais difícil. O seu texto foi o mais sofrido. Relembrar feridas que não cicatrizam, tocar a dor de ter te perdido um dia, todo o dia. Todos os dias.

Como disse, não sei o que sinto ou o que senti, mas a maior dor é a da certeza de que sou o que você me fez, vivo a felicidade que você me deu e, apesar de tudo, não sou metade do que a tua presença representa. E, por tudo o que não nomeio, mas sinto, eu ainda tenho que aprender a desistir de você.

8 comentários:

  1. Nossa!!!
    Muuuuito bom!
    Maravilhoso!!!

    Mas duvido um dia encontrar um texto com meu nome! heheheheh!

    parabéns!

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  2. Me dê licença para eu ir no cantinho chorar ;_;

    Não, sério, esse texto transpira dor, mas com ternura. E sua escrita é incrível.

    Achei lindo.

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  3. Achei esse o melhor, sem dúvidas. Caraca, mto bom mesmo! Escreva mais, para eu deixar de ser Cebolinha, rs

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  4. Fiquei presa às suas palavras, porque me sei presa à mesma dor. Obrigada, hoje já não estarei tão sozinha...

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  5. lindo..muito profundo..vivi isso com meu amorzinho....moniky michelly soares

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  6. Nossa, você conseguiu transcrever tanto sentimento em palavras leves. Parabéns.

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  7. Muitos já disseram "profundo", "tocante"...Eu digo que foi verdadeiro. Muitas metáforas embutidas, muitas palavras ocultas, muita dor não revelada, porém uma veracidade fora do comum. Estou gostando dos seus escritos daqui. Até.

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